Madame Bovary - Gustave Flaubert

          Em uma cidadezinha do interior morava um agente de saúde chamado Charles Bovary. Um homem pacato, era uma espécie de médico do lugar. Casado com uma mulher muito mais velha, sempre obedeceu ao que as pessoas esperavam dele da maneira que foi possível. Um dia, é chamado à propriedade do senhor Rouault, que havia sofrido uma fratura na perna, e conhece Emma, por quem se apaixona.

         Quando se torna viúvo, Charles pede Emma em casamento e ela aceita, pois estava apaixonada e acreditava amá-lo. Por algum tempo eles vivem bem, mas logo Emma começa a sentir o peso do tédio em sua vida e se desespera.

         Para tentar se refugiar desse tédio e da insatisfação com a própria vida, Emma Bovary recorre ao adultério e ao gasto desenfreado de dinheiro, na ilusão de construir para si uma vida igual à das mulheres nos romances que consumia desde a juventude.

 

         Um conselho que recebi durante a leitura, foi para ler com “os olhos da época”. Faz bastante sentido, afinal o livro se passa no século XIX, com muitas diferenças de pensamento e comportamento com relação aos dias de hoje, certo? Nem tanto.

         Imagino que todos nós em algum momento da vida(em mais de um momento talvez), tenhamos sentido algo incomodando, como se estivéssemos cumprindo um papel que não foi feito para nós. Tem algo errado; porque não posso agir de maneira diferente, ou seguir aquilo que realmente almejo? Às vezes, por diversas razões nos vemos em posições que requerem, por convenção, determinado comportamento. Algumas pessoas se adaptam bem(fazer o que, não é!?), mas outras simplesmente não dão conta, não tendo para onde correr. O que não justifica se refugiar em ilusões. E viver de ilusões aqui, me refiro ao que nossa personagem principal faz, almejando viver dentro de um romance do tipo “açucarado”, escrito para nos instigar a ideia de perfeição, exatamente como os contos de fadas devem ser. Portanto, nada de ler obras literárias sem interpretação e se esquecer que a vida a ser vivida é a sua, não a do personagem. Os livros estão aí para ilustrar através de histórias nosso cotidiano, sentimentos e questões nos ajudando a lidar com eles, acrescentam conhecimento e em outros casos nos servem de uma boa distração momentânea.

         Quando você leitor, entrar em contato com a história de Emma, esses dois temas lhe saltarão aos olhos, mas tenha certeza de que esta é uma obra de muitas camadas. Vai depender do ângulo em que olhar para ela. Mas no final das contas, acredito que Emma Bovary somos todos nós. Principalmente por aquele vazio que sentimos e tentamos corrigir com pessoas, coisas e atitudes que nunca são as peças corretas do nosso quebra-cabeça.

 

         Lançado em 1856 na França, já de início Flaubert sofreu um processo judicial, onde alegaram como principal ponto de acusação que o romance era imoral. Ok, na época, temas como adultério, mulheres tomando decisões próprias, etc, poderiam ser considerados inapropriados. Mas afora isso, ao longo de toda a leitura, não é possível localizar uma linha com palavras fazendo menções diretas a nada de mais, principalmente ao sexo. Sem ter produzido provas contra si, o autor conseguiu ser extremamente claro em suas ideias e informações, sem precisar escrever muita coisa. Talvez por isso tenha saído vitorioso do julgamento. E como tudo o que é proibido se torna mais interessante às pessoas, o livro foi um grande sucesso de vendas. Desde então, ele vem fazendo um sucesso enorme, tornando-se um clássico atemporal.

         Confesso que fiquei um pouquinho cansada em alguns momentos da leitura, com o comportamento de Emma... Mas isso não prejudicou a leitura, já que os eventos se sucedem sem enrolar muito e prendem o leitor pela curiosidade sobre seu desfecho.

        Recomendo muito este livro!

 

        Boas leituras!!



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