Crime e Castigo - Fiódor Dostoiévski

 

“É a doença que gera o crime ou o próprio crime, por sua natureza específica, de certa forma é sempre acompanhado de algo como uma doença?”

 

         Rodion Románovitch Raskólnikov é um jovem russo que se mudou para são Petersburgo para estudar Direito, mas que em determinado momento se vê obrigado a abandonar os estudos por falta de dinheiro para custeá-los. Sua mãe e irmã não conseguem mais lhe enviar dinheiro suficiente e as aulas particulares que ministrava para sobreviver se escassearam, até que não conseguiu mais nenhuma.

         Como consequência, as contas se acumulam e a vida torna-se miserável. Para conseguir algum dinheiro, Raskólnikov costuma penhorar alguns objetos com uma velha viúva, Aliena Ivánova. Uma mulher detestável segundo ele, de quem ninguém gostava e por isso mesmo, a vítima perfeita para o crime que ele orquestra e executa.

 

         A mente de um assassino pode ser interessante, sobretudo se a pessoa não é tão fria quanto acredita. No caso de Raskólnikov, sua consciência de debate tanto antes e principalmente depois do crime, que chega a lhe provocar danos físicos. Ao planejar o assassinato, pretendia duas coisas: pegar o que houvesse de dinheiro na casa de Aliena em benefício próprio, e provar sua teoria, onde a execução de um pária da sociedade é perdoável, caso o executor seja alguém pertencente a uma classe de “escolhidos” a quem seria possível tais atos.

 

         “… um crime único é permitido se o objetivo central é bom.”

 

         Mas as coisas não ocorrem como o planejado, e em um momento de pânico, para não deixar testemunhas, ele também mata a irmã da velha, Lisavieta. Ela entra no apartamento, onde morava com a irmã, enquanto Raskólnikov está revirando as gavetas da morta buscando o dinheiro, e encontra o cadáver. Só que Lisavieta era uma boa pessoa que não merecia morrer. Diante desse impasse, poderia o executor ser perdoado, independente de sua condição?

         A investigação da polícia através de depoimentos, juntando os pontos e armando o cerco é algo a ser acompanhado com atenção. Tem um diálogo entre o juiz de instrução, Porfiri Pietróvitch, e Raskólnikov na delegacia, que é muito bom! Palavras, se bem manuseadas, podem provocar em nós a dúvida em relação às nossas próprias convicções.

         Mas nem só de assassinato compõe-se o livro. Dostoiévski apresenta muitos outros problemas sociais que vão ferver os nervos e provocar compaixão, lembrando sempre que toda história tem dois lados. Quanto uma mente doentia consegue aguentar antes de sucumbir à loucura, ao assassinato ou suicídio? Por vezes as situações e atitudes dos personagens me pareceram exageradas, mas acredito que a ideia seja chamar a atenção para os absurdos e provocar alguma reflexão. Os barracos são memoráveis e os diálogos muito compridos. Aliás, falas e diálogos compridos parece ser mal de autor russo…

 

         Publicado em 1866, o livro não fez um sucesso tão grande de início, seu valor foi reconhecido com o passar dos anos. Hoje, considerado como um clássico da literatura, o romance ajudou a construir as bases da psicologia criminal amplamente utilizada. Os demais temas por ele tratados, como autodestruição e humilhação, também formaram bases para ideias sobre sociologia, psicologia e filosofia.

         Recomendo muito que o leiam, a leitura é fluida e a linguagem é de fácil compreensão. Para ampliar um pouco a reflexão após a leitura, recomendo que assistam a um vídeo no youtube do canal Café Filosófico chamado Dostoiévski: Crimes sem Castigo com curadoria do filósofo Flávio Ricardo Vassoler, que traz muitas reflexões interessantes dessa obra em paralelo com o mundo real.

 

         Boas leituras!!




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