Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis

       “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas.”


    Brás Cubas está morto. Passou para o outro lado vítima de uma pneumonia não tendo tempo de conceber e testar sua invenção, que ainda não passava de uma ideia em sua mente; um emplastro que curaria todas as doenças. Ao seu enterro compareceram apenas onze pessoas e por aí já se vê que não era figura tão cativante ou importante dentro da sociedade.

    Mesmo assim ou talvez por isso mesmo, decide escrever um livro sobre a própria vida. Nada muito formal, apenas colocar suas memórias no papel sem reservas ou autopromoção já que após a morte, segundo o próprio defunto, não há mais plateia a agradar sendo possível liberar toda a autenticidade e falar abertamente; após informar sobre as circunstâncias de sua morte Brás Cubas começa pelo começo, ou seja, o berço.

    Desde muito jovem seu gênio nada agradável era pouco ou nada repreendido pelos pais, passa a infância sendo uma criança inconveniente muitas vezes e posteriormente passa os anos de sua juventude às voltas com insucessos amorosos sem se preocupar com o futuro, já que seu pai era rico o bastante para prover todas as suas necessidades. Quando adulto, já dono da fortuna herdada do pai, continua sem nenhuma ocupação útil preocupando-se apenas com o romance mantido com Virgília. Anos depois tentou carreira na política e posteriormente a carreira de editor de um jornal mas sem sucesso; também não teve sorte no amor. Apenas ao refletir sobre a própria vida enquanto escreve é que se dá conta do quão medíocre ela foi, não obtendo êxito em nada a que se dispôs.


    Publicado em 1881, o romance foi inicialmente escrito para sair em partes na revista Gazeta de Notícias; Machado de Assis nesta obra deu o pontapé inicial no movimento que traria para as obras produzidas a realidade das coisas ao invés da visão romântica e idealizada da vida. O movimento em questão é o Realismo, que começava a despontar nas terras brasileiras. Estamos no reinado de Dom Pedro II, as campanhas abolicionistas já estavam ocorrendo mas ainda não haviam chegado ao ponto desejado. O autor traz críticas à escravidão, à futilidade da vida social, à importância que um pedaço de papel recebe acima do conhecimento real adquirido, à inutilidade de muitos dos “representantes do povo” na política com seus projetos sem relevância, à hipocrisia de forma geral entre tantas outras colocadas aqui de forma mais ou menos direta através de cenas narradas do dia a dia do personagem com uma pitada de bom humor e ironia; nada melhor que situações absurdas que nos provocam o riso para chamar a atenção ao que realmente importa.

    Não se assustem por ser um clássico da literatura brasileira, muitos de nós ainda conservam uma resistência a essas obras dos tempos da escola(conteúdo estafante e incompreensível) ou por preconceito mesmo. Pessoalmente eu tinha trauma da escola(risos) mas hoje, um pouco mais madura para compreender melhor os textos, decidi tentar novamente e descobri um livro muito bom que não perde em nada para os grandes clássicos internacionais. Portanto, vamos parar com a desculpa de que clássico nacional é sempre ruim e chato e procurar começar com aquele que mais chamar a sua atenção. Depois disso não tem como parar, já fui colocando outros títulos na pilha de leitura que para nós leitores é a melhor definição de infinito.


“Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.”



    Boas leituras!!




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