Dona Leopoldina, a história não contada - Paulo Rezzutti

   Era uma vez uma grã-duquesa que vivia feliz em seu país com sua família. Um dia, devido a questões políticas, seu pai concede sua mão em casamento a um jovem príncipe que vivia em um país muito distante e completamente diferente do seu. Ela não conhecia o príncipe, mas se apaixonou pela ideia que fazia dele e partiu para a nova terra cheia de sonhos e esperanças para cumprir com o seu dever de membro da realeza. Porém ao chegar, qual não foi sua decepção ao ver suas expectativas caírem por terra tanto com relação ao príncipe quanto ao país e sua corte. Apesar disso, seu senso de dever e o amor que aprendeu a ter pelo novo país, não a deixaram desistir e a princesa suportou uma vida inteiramente diferente da que gostaria de ter tido até o fim de seus dias.


  A grã-duquesa Leopoldina Carolina Josefa nasceu em 22 de janeiro de 1797 em Viena, Áustria, filha de Francisco II do Sacro Império Romano-Germânico e de Maria Teresa das Duas Sicílias, sua segunda esposa. Casou-se com Dom Pedro, filho do rei de Portugal Dom João VI e de Dona Carlota Joaquina, quando a família já residia no Brasil(na época uma colônia portuguesa) há algum tempo. Dentro da família, tinha uma maior proximidade com o sogro, convivia bem com o marido e dedicou-se aos filhos procurando dar-lhes uma educação de qualidade na medida do possível. Como figura pública sua compostura e habilidade para tratar com as pessoas, dos mais humildes aos mais destacados, contrastava e equilibrava a falta de tato do marido que possuía um temperamento mais explosivo e nada diplomático. Durante muitos anos participou da vida política, Dom Pedro confiava em sua opinião sobre o assunto e lhe deixava a par de tudo o que ocorria no país; o que foi excelente para a pátria já que Dona Leopoldina foi uma das pessoas que mais defendeu e trabalhou em prol de sua independência.

  A mulher Leopoldina foi alguém que seguia, até certo ponto, as regras da época no que dizia respeito às mulheres; sua imagem pública era padrão se mostrando uma esposa abnegada e prestimosa e uma mãe dedicada, mas na intimidade essa imagem se desfazia e surgia uma pessoa normal com seus altos e baixos. Quando jovem em sua terra natal possuía uma maior liberdade de locomoção em teatros e festas e expunha sua opinião mais abertamente; adorava estar com a família, principalmente a irmã mais velha a quem escrevia com frequência. Como todas nós um dia, se empolgou com a ideia do “príncipe encantado” e quebrou a cara ao descobrir que não era bem assim, mas no caso dela a separação não era bem uma opção… Em eventos sociais se vestia com roupas finas e elegantes, mas na intimidade preferia um vestuário mais simples frequentemente dando preferência a trajes de montaria causando estranhamento nas pessoas por usar calças. Não se adaptou tão bem ao clima tropical e principalmente ao tempero local que lhe causava muitas dores de estômago. O pagamento mensal que lhe fora prometido antes de chegar ao Brasil não era pago, obrigando-a a se endividar constantemente para manter os empregados pessoais e também o auxílio que prestava a inúmeras famílias pobres que a ela recorriam. Tolerava as escapadelas do marido(muitas vezes com uma passividade excessiva) em aventuras com outras mulheres, sempre casos mais rápidos e sem importância, mas não resistiu à humilhação que “o caso Domitila” lhe impôs. Sua saúde piorou cada vez mais até seu falecimento em 11 de dezembro de 1826.

  Publicada em 2017, esta biografia de Dona Leopoldina traz a imagem da “mulher por trás da Independência do Brasil” numa visão mais íntima de sua vida e também o contexto histórico da época. O livro faz parte de uma coleção que também conta com as biografias de Dom Pedro I, Dom Pedro II e um volume que traz o relacionamento entre Dom Pedro I e Domitila; o autor traz a história em um formato mais para compilação de dados do que um romance histórico o que torna a leitura mais fluida, mas pessoalmente prefiro as biografias que pendem para o formato romanceado. 

  Gostei de conhecer melhor a primeira Imperatriz do Brasil e descobrir mais uma figura feminina histórica que era muito mais do que a imagem oficial passada através dos livros didáticos; era gente como a gente com qualidades e defeitos que procurou viver da melhor maneira possível diante das circunstâncias e que aprendeu a amar o Brasil e seu povo sendo por ele correspondido em reconhecimento, respeito e carinho até os dias de hoje. Convido vocês a conhecer um pouco mais a história nacional, principalmente a de seus protagonistas para desfazer um pouco os mitos criados ao longo do tempo.


  Boas leituras!!


           


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