O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brontë

  O senhor Lockwood alugou a propriedade da Granja da Cruz dos Tordos por uma temporada e durante uma tarde em que nevava bastante, apesar do risco, ele decide se aventurar até a mansão do Morro dos Ventos Uivantes para conhecer seu senhorio pessoalmente. Lá chegando a recepção por parte de todos os moradores não  é nada amistosa, muito pelo contrário, tentam se livrar de sua presença de alguma forma mas como a tempestade de neve se intensificou muito ele precisou pernoitar no Morro. Heathcliff, o senhorio, permitiu que ficasse mas foi uma noite tão estranha… Para começar todos foram bastante rudes e deixaram bem claro que Lockwood era indesejado ali (eram rudes até mesmo entre eles) e depois o fantasma de Catherine lhe deu um tremendo susto ao aparecer na janela do quarto em que passou a noite! De volta à Granja, ficou curioso a respeito de figuras tão estranhas e procurou saber de sua governanta Ellen Dean algo sobre eles. Ellen então lhe conta a história a história das famílias Earnshaw e Linton que moraram nas propriedades em questão e tudo o que ocorreu desde a chegada de Heathcliff na família Earnshaw, adotado como filho.

Um dia o senhor Earnshaw sai para uma viagem e retorna com um garoto nos braços. Esse garoto é descrito como um cigano de pele escura que vivia na rua portanto completamente diferente do status quo da época. É bem recebido na casa apenas por Catherine, a filha mais nova, e os dois passam a ser unha e carne até o dia em que a menina precisa passar uma temporada com os Linton e volta muito diferente nos modos e no tratamento com seu amigo.


Catherine e Heathcliff, um amor intenso demais para caber em apenas uma pessoa, eles eram um só e não podiam suportar a ideia da separação definitiva apesar de pertencerem a mundos completamente diferentes. O resultado foi avassalador para ambos e cada um reagiu à sua maneira: ele procurou vingança em todos os responsáveis não só por separá-los mas também pelos maus tratos que sofreu na juventude tentando amenizar e disfarçar a dor que sentia; ela se voltou contra a pessoa que mais a prejudicou em seu ponto de vista, ela mesma e na tentativa de negarem a si mesmos produziram um caos que arrebatou não só a ambos mas também a todos ao seu redor causando muitos sofrimentos.

Não pensem vocês que este é um romance comum, temos uma paixão tórrida, dramática e até trágica mas o tom da narrativa é bastante sombrio o tempo todo sem nem um momento de respiro para o leitor. A história é povoada por fantasmas, os vemos literalmente saindo da tumba para assombrar os vivos e também fantasmas internos que assombram seus criadores pedindo por liberdade. Ninguém dorme ou se alimenta bem, estão sempre tristes de alguma maneira e suas vidas se resumem em grande parte às mansão do Morro e a casa da Granja, ambientes claustrofóbicos onde não há esperança possível. Duas gerações se entrelaçam e se fundem numa tentativa de equilíbrio e compensação, mas que no fim as coisas começam a ter um vislumbre de uma luz e o ar volta a correr pelo ambiente trazendo um sopro de esperança em dias melhores para os sobreviventes dessa saga familiar.

Publicado em 1847, a obra foi o único romance da autora Emily Brontë hoje considerado um grande clássico da literatura mundial. Muitas interpretações foram feitas a partir dessa história e várias outras surgem a cada dia após conhecer uma trama sombria, intensa, por vezes indigesta e com personagens complexos com qualidades e defeitos que deixam vir à tona conforme as emoções afloram. Recomendo a leitura e preparem-se para algo diferente que vale a pena conhecer, algo que certamente não deixa o leitor abandonar a leitura por muito tempo envolvendo-o numa relação de amor e ódio a cada capítulo. 


“Nelly, eu sou Heathcliff! Ele sempre está nos meus pensamentos, e não como fonte de prazer, assim como nem sempre sou um prazer para mim mesma, mas como meu próprio ser.”


“Esteja sempre comigo, assuma a forma que quiser, enlouqueça-me! Só não me relegue a este abismo, onde não posso encontrá-la! Por Deus! Não há palavras… Não posso viver sem minha vida! Não posso viver sem minha alma!


Boas leituras!!




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